Categoria: Notícias
Data de publicação: julho 13, 2022

Entrevista José Augusto Tomé

José Tomé é cofundador e CEO do AgTech Garage, além de um dos idealizadores do Vale do Piracicaba (AgTech Valley). O AgTech Garage é um dos mais relevantes hubs de inovação no agronegócio mundial e está completando cinco anos de atividades em 2022.

Empreendedor, entusiasta da inovação aberta e do ecossistema de inovação do agronegócio, Tomé foi considerado uma das cem pessoas mais influentes do agronegócio brasileiro pela revista Dinheiro Rural (2018). Formado em engenharia química, antes de empreender, acumulou mais de 10 anos de experiência com Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em startups, empresas e centros de pesquisa.

BioJournal - Como foi a criação do Vale do Piracicaba e posteriormente do AgTech Garage?

Tomé - O Vale do Piracicaba é um movimento que busca criar uma consciência ainda maior para Piracicaba como sendo o Vale do Silício do agro no Brasil. Foi iniciado em 2016, teve a participação de membros da academia, da iniciativa privada, mas basicamente é um movimento que busca potencializar essa consciência.

Piracicaba naturalmente já tinha muitos dos atores que são importantes para um ecossistema local florescer, como cooperativas, grandes empresas, grandes produtores e um número bom de startups formadas por ex-alunos da Esalq e outras universidades da região, além da proximidade com a capital do estado, o que também colaborou.

Já existiam todos esses atores, mas não havia ainda a consciência, uma nova abordagem, vamos dizer assim. Então quando começamos a ser procurados por fundos e aceleradores de startups, por volta de 2015, nós, junto com a Esalq, percebemos que existia o pessoal de fora, querendo montar fundo, aceleradora, reconhecendo que aqui é um lugar para se criar algo desse tipo no Brasil, para fomentar esse ecossistema de empreendedorismo. Daí veio a parceria e o start dessa ideia. Começamos a perguntar o que de fato precisa, de novo, na região. Isso tudo começou a gerar o reconhecimento na mídia e outros stakeholderes.

A partir daí, todo mundo que, de alguma forma, estava envolvido nesse ecossistema de empreendedorismo em startup, começou a se conversar mais. Assim, surgiu, por exemplo, o AgTech Day, que foi o happy hour dos empreendedores do Vale do Piracicaba. Foi nesse evento que conheci o Marcelo Carvalho, que virou meu sócio no AgTech Garage.

Além disso o movimento começou gerar curiosidade. As pessoas começaram a perguntar se a Esalq tem todo esse papel de ser o Vale do Silício do agro, que a Esalq seria o Stanford, vamos dizer assim, o que a Esalq faz de diferente e de novo? E aí veio o Esalq Show, que buscou abrir a universidade para o mercado com o AgTech Valley Summit.

Com todo esse movimento, começamos a ver se valeria buscar uma aceleradora, um fundo, e então a gente criou o AgTech Garage. Desde o início, nosso objetivo é ser um player desse ecossistema, que traria as grandes empresas para esse jogo.

Então, o AgTech Garage nasceu logo em seguida, em 2017, para ajudar grandes empresas a fazer a inovação aberta acontecer de uma forma mais estruturada e profissional. O nome AgTech Garage vem do termo corporate garage, fruto de um artigo de Harvard que falava que as grandes empresas vão precisar criar suas garagens. A partir do censo brasileiro de startups do agronegócio, feito em parceria com a Esalq, em 2016, passamos a entender o que as startups precisam, mas também o que as grandes empresas querem. Assim, nos posicionamos como um hub de inteligência e conexão para ajudar grandes empresas a praticar a inovação aberta.

BioJournal - Como vocês conectam os diversos atores desse ecossistema?

Tomé - De fato, o AgTech Garage, como hub de inovação, tem um papel de orquestrar essa rede, esses diferentes atores. Então, por exemplo, as startups participam desde uma comunidade virtual - são mais de mil startups do Brasil e 13% desta comunidade já são de outros países. Virtualmente, elas têm essa plataforma e compartilham informações, participam dos desafios tecnológicos dos nossos parceiros, isso sem investimento da parte das startups. Por outro lado, a gente tem startups residentes, que estão com mais frequência em Piracicaba e participam do dia a dia do hub. No ano passado, a gente criou o membership para startups, que são aquelas que querem estar mais perto do AgTech Garage, mas não estão aqui fisicamente.

Estas empresas têm o suporte de um gestor do nosso time, que as acompanha ao longo da jornada e gera valor. Hoje, já são mais de 120 startups membership, sendo que cerca de 15% são de fora do Brasil. Hoje, o empreendedor que estiver isolado em sua “garagem” está perdendo competitividade, então ele vem para ambientes como esses para ter um nível de exposição com os outros atores, o que é fundamental para o sucesso de uma startup.

Do outro lado, com as grandes empresas parceiras, temos um trabalho estruturado de geração de valor, onde essas empresas amadurecem sua governança, sua gestão de inovação e tem o hub como um grande ferramental, estimulador e catalisador das ações. Para isso, contamos com um time grande hoje, que dá suporte a essas grandes empresas, que já conta mais de 80 pessoas.

Pensando do lado da academia, criamos o Fellowship Program. Hoje, são mais de 30 pesquisadores pelo Brasil, que se relacionam com o hub em encontros específicos. Possuímos um modelo de seleção desses parceiros, para que consigamos atrair pesquisadores que tenham sinergia com essas parceiras, com as startups e gerem negócios juntos. Temos também uma rede grande de investidores, alguns até especialistas em agro. São diferentes atividades ao longo do ano que, de forma organizada e estruturada, conseguem conectar todos esses players.

BioJournal - O que mudou no agro e na inovação nesses 5 anos?

Tomé - A velocidade com que as coisas acontecem e mudam no ambiente do agronegócio é muito impactante. Uma dessas mudanças que vale ressaltar é a maturidade do ecossistema. Organizações com o AgTech Garage se consolidando como uma plataforma de apoio. Assim, vemos, por exemplo, agências internacionais criando programas estruturados junto ao hub, e atraindo startups internacionais para o mercado brasileiro de maneira mais ágil, com menos riscos, com conexões prévias e mais entendimento do mercado. Até a forma com que as agências internacionais estão trabalhando para auxiliar na importação e exportação está mudando.

Outro fator é a maturidade das empresas. Era muito comum, no início desse movimento, as empresas se conectarem com o AgTech Garage, esperando uma participação de forma orgânica. Hoje isso mudou, as empresas estão criando áreas de inovação e levando esse movimento para um nível ainda mais corporativo e estratégico, onde não só uma área de negócio se beneficia com a parceria, mas outras áreas que não eram vistas, como o marketing e RH, por exemplo. Assim, a prática da inovação aberta está mais profissional, com ferramentais e melhor estruturada.

Outra mudança é o cenário de investimentos. Há cinco anos, tínhamos poucos investidores e esse número cresceu. Os ventures capital (VC) estão mais especializados, também surgiram os coporate venture capital (CVC), onde as grandes empresas criam seus próprios fundos de investimentos. Vê-se também movimentos de produtores se reunindo para criar crowdfunding e seus próprios fundos. Com isso, o cenário de investimento e o acesso ao capital mudou muito. A forma de se relacionar com o empreendedor também mudou, pois ele mais maduro, interagindo com os fundos por oportunidade e não por necessidade. Profissionais que antes faziam sua carreira em grandes empresas, hoje escolhem trabalhar em startups. Com isso, o agro está muito oportuno para empreendedores de outros setores.

BioJournal - Quais os planos para os próximos anos?

Tomé - Como AgTech Garage, temos a visão que não existem vários ecossistemas, e sim um só. Não fazemos a separação de ecossistemas entre cidades, regiões e países, por exemplo. A gente busca cada vez mais uma abrangência global, conectando o todo, indo do campo à mesa, atraindo foodTechs para nossa comunidade, por exemplo.

Vemos também uma descentralização. Como hub, apesar das pessoas olharem como sendo um espaço que concentra, nós temos a visão de rede. Como essa visão, lançamos recentemente o modelo Flagship, onde nossas empresas parceiras levam a experiência do AgTech Garage para seus ambientes, fortalecendo essa rede genuinamente conectada. E nós apostamos muito que essa iniciativa vai crescer.

Outro posicionamento do hub é o conceito One Stop Shop para a inovação aberta e em rede, onde não teremos apenas os Flagship, mas também programas com produtores rurais, área de learning & experience, fundo de investimentos onde nossas empresas parceiras são cotistas, etc. Enfim, uma série de atividades que suportam as necessidades dos nossos parceiros e startups.

BioJournal - Como é a parceria do AgTech Garage com a Koppert e o Gazebo?

Tomé - A Koppert é um Ecosystem Partner do AgTech Garage, com isso temos uma série de ações ao longo do ano com a finalidade de potencializar a prática da inovação aberta junto à empresa, como acesso às melhores startups, mudança de mindset e aculturamento, eventos, realização de desafios tecnológicos, e também um gestor de comunidade do hub atento às necessidades da empresa.

A Koppert deu um passo além e criou o Gazebo, que é um hub de inovação aberta que fica dentro do AgTech Garage, estabelecendo assim uma interação ainda maior com o ecossistema. O Gazebo busca as startups que vão realizar projetos, receber investimentos e que terão uma parceria ainda maior com a Koppert. E o fato de estar dentro do AgTech Garage é interessante para todo mundo (Koppert, AgTech Garage e parceiros), criando uma densidade e fortalecendo a governança e a gestão da inovação. Vemos que a Koppert está bem preparada para lidar com diferentes tipos de parcerias e startups, pois cada nível de maturidade de startups requer um mecanismo diferente de parceria, e o Gazebo veio para complementar isso junto à Koppert.

BioJournal - Qual a importância desse tipo de parceria?

Tomé - Para nós, é a concretização da ideia ao conceber o AgTech Garage como um player que auxilia as grandes empresas em seus processos de inovação aberta, atraindo densidade, fornecendo ferramentais e criando competitividade para gerar melhores resultados. Costumamos dizer que o hub é um negócio de valor compartilhado, onde só dá certo à medida que der certo para todo mundo. A Koppert, na rede do AgTech Garage, tem acesso a todo esse ferramental, trocando com os players, para se fortalecer e crescer. Não é à toa que hoje estamos com mais de 80 empresas parceiras, pois elas - e também os empreendedores - veem valor de estar perto de empresas como a Koppert, por exemplo. Assim, juntos, construímos uma cultura com melhores práticas.

Ter a Koppert como parceira é fundamental. É isso que buscamos atrair: empresas que estão na liderança, que olham a inovação de maneira estratégica e que investem para fazer os processos e negócios aconteceram de maneira mais rápida, ágil, para impactar positivamente o agro.

Atenção:

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