Categoria: Notícias
Data de publicação: janeiro 10, 2024

BioJournal Entrevista: Nathalie Maluta

Nathalie Maluta é pesquisadora de macrobiológicos da Koppert Brasil. Especializada em entomologia, é uma das poucas pesquisadoras no mundo que dominam a técnica de Electrical Penetration Graph (EPG). Com base nesses conhecimentos, Nathalie, juntamente com Thiago Rodrigues de Castro, Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento da Koppert Brasil, e João Roberto Spotti Lopes, pesquisador do SparcBIO (São Paulo Advanced Research Center for Biological Control) e professor da Esalq/USP, publicou dois artigos na Revista Nature que demonstram os efeitos do fungo com ação inseticida Cordyceps fumosorosea (anteriormente conhecido como Isaria fumosorosea) sobre a cigarrinhado-milho (Dalbulus maidis) e o psilídeo vetor do greening (Diaphorina citri).

As pesquisas mostram que o fungo já começa a agir em até dois dias de aplicação, quando os insetos param de se alimentar. Apesar da morte ocorrer de 5 a 7 dias após o uso do bioinseticida, as pragas já deixam de atacar as plantas logo depois do tratamento, evitando assim a transmissão de doenças como o enfezamento e o greening.

BioJournal - Conte como foi sua trajetória profissional até aqui.

Nathalie - Sou engenheira agrônoma formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), com mestrado e doutorado pela Esalq/USP na área de entomologia, atuando principalmente com insetos vetores de doenças de plantas. Parte da minha pós-graduação foi realizada no Consejo Superior de Investigaciones Científi cas (CSIC), em Madri, na Espanha, onde aprendi a técnica de Electrical Penetration Graph (EPG).

Após o doutorado, realizei dois pós-doutorados, sendo um no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), onde tive a possibilidade de prestar consultoria para algumas empresas de agroquímico que necessitavam utilizar o EPG para compreender o modo de ação de inseticidas químicos, e o segundo no SparcBIO, centro de pesquisas mantido pela Koppert, a Esalq e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Atualmente atuo como pesquisadora de macrobiológicos na Koppert Brasil.

BioJournal - Como é seu trabalho na Koppert? Há quanto tempo está na empresa?

Nathalie - Na Koppert, atuo como pesquisadora de macrobiológicos, sendo o principal foco os parasitóides e a melhoria contínua de produtos do portfólio. Ingressei na empresa no final de 2021.

BioJournal - Como surgiu seu interesse por entomologia e controle biológico?

Nathalie - Meu interesse por entomologia surgiu nos primeiros anos de graduação, quando iniciei estágios com o Prof. Dr. Maurício Ursi Ventura, na UEL, e a certeza da área escolhida foi quando fiz estágio de final de graduação no Laboratório de Insetos Vetores de Fitopatógenos, na Esalq, sob a supervisão do Prof. Dr. João Roberto Spotti Lopes.

Durante a pós-graduação meu contato com controle biológico foi apenas nas disciplinas. Já na prática, começou quando realizei o pós-doutorado em que avaliei os efeitos de fungos entomopatogênicos no comportamento alimentar de insetos vetores. Ademais, meu marido Thiago Rodrigues de Castro, um dos autores do artigo, foi um dos incentivadores de eu atuar nessa área, pois ele trabalha com controle biológico desde 2004.

BioJournal - Como se desenvolveram as pesquisas com Cordyceps que foram publicadas na Scientific Reports (Nature)?

Nathalie - As pesquisas envolvendo os efeitos de Cordyceps no comportamento alimentar de Diaphorina Citri e Dalbulus maidis, foram desenvolvidas durante meu pós-doutorado pelo SparcBIO, e foram finalizadas quando eu já estava trabalhando na Koppert.

A ideia surgiu quando nos demos conta de que havia centenas de estudos na literatura a respeito de como os inseticidas químicos afetam o comportamento alimentar de insetos vetores, e não tinha nada sobre os efeitos de organismos entomopatogênicos. Além disso, já havia conhecimento empírico no campo da alteração do comportamento dos insetos após a utilização dos produtos microbiológicos, mas nunca havia sido comprovada e quantificada essas alterações. E assim, percebemos que seria de extrema relevância científica estudarmos esse aspecto em duas pragas de grande importância agrícola.

BioJournal - Quais os principais resultados?

Nathalie - Pudemos concluir com essas pesquisas que produtos formulados com o fungo Cordyceps, quando aplicado sobre as espécies avaliadas, têm um grande potencial em alterar o comportamento alimentar desses insetos, podendo ser uma ferramenta de manejo muito importante e sustentável. Isso porque ao afetar as atividades alimentares desses insetos, pode, consequentemente, reduzir a transmissão dos patógenos associados a tais pragas.

BioJournal - Como é a tecnologia EPG que foi utilizada?

Nathalie - A técnica de Electrical Penetration Graph (EPG) é utilizada para estudos do comportamento alimentar de insetos sugadores, a qual permite estudar o comportamento de prova e atividades estiletares dos insetos dentro dos tecidos vegetais em tempo real. Desse modo, os estudos realizados com esta técnica foram aplicados para melhor compreensão dos processos envolvidos na transmissão de fitopatógenos, resistência de insetos a inseticidas químicos e biológicos e a variedades vegetais, além de estudos de caracterização do comportamento alimentar. Poucas pessoas no Brasil sabem aplicar esta técnica, e há no mundo alguns grupos de pesquisa muito importantes que a utilizam, principalmente na Espanha, EUA e Holanda.

BioJournal - Quais as pesquisas que estão desenvolvendo no momento?

Nathalie - Futuramente há possibilidade de estudar os efeitos de outros microrganismos entomopatogênicos no comportamento alimentar de demais insetos sugadores, como por exemplo percevejos, que são pragas muito importantes na cultura da soja, e a Koppert vem pesquisando intensivamente soluções para este problema.

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