Sergio Abud da Silva
Biólogo, Embrapa e CESB
A soja (Glycinemax (L.) Merril) é a oleaginosa de maior importância mundial, devido à sua alta concentração de óleo e proteína. Essa cultura é amplamente difundida no território brasileiro, sendo cultivada em praticamente todos os estados. Na Bahia, a área plantada foi de 1,6 milhão de hectares e sua produtividade foi a terceira maior do Brasil, de 3.776 quilos por hectare na safra passada, segundo dados da Conab.
Segundo Sentelhas el al. (2015), a produtividade potencial da soja, estimada por modelos matemáticos, é determinada por fatores como o genótipo (cultivar) o arranjo de plantas, a radiação solar e a temperatura (máxima e mínima).
A água é o fator limitante da produtividade e, a partir da sua disponibilidade, estima-se a produtividade atingível da soja. A soja necessita em média de 6 mm de água por dia, sendo o florescimento seu estágio crítico, quando ela necessita de cerca de 7,4 mm, segundo Berlato e Bergamaschi (1978).
Para a obtenção da produtividade real da lavoura, o manejo é de fundamental importância, pois controla os fatores que são redutores da produtividade, como plantas daninhas, doenças, pragas, estresse biótico etc.
A relação entre a produtividade atingível e a produtividade potencial resulta na eficiência climática e a relação entre produtividade real e a produtividade atingível resulta na eficiência agronômica. Não é possível alterar a eficiência climática de cada ano, mas a eficiência agronômica, sim.
Sabemos que a produtividade de uma lavoura de soja é igual ao número de grãos multiplicado pelo peso médio dos grãos colhidos. Para aumentar a produtividade, deve-se estar atento aos componentes de rendimento da planta de soja, como a população de plantas bem estabelecida, o máximo de entrenós por planta, de vagem por entrenó, de grãos por vagem e o ótimo peso de mil grãos obtidos. Para isso, independente das condições climáticas, a eficiência agrícola tem que ser a melhor possível.
O oeste da Bahia, tem uma radiação solar fantástica. A temperatura mínima normalmente está próxima do ideal para a cultura (20°C). Porém, a temperatura máxima fica acima do ideal (30°C). O manejo, capaz de reduzir o impacto dos fatores redutores da produtividade, tem feito a diferença nas lavouras. Nessa região, as médias dos recordistas de produtividade do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB) têm sido as maiores do país.
É comum ocorrerem períodos de estiagem ou até mesmo safras com maior ou menor concentração de água no início, meio ou final do ciclo da soja. Para alcançar médias de produtividade tão altas, nessas condições, os recordistas utilizam um conjunto de tecnologias para aprofundar do perfil e armazenar água no solo. O perfil do solo, de 0 a 20 cm, é bem corrigido com os macros e micronutrientes disponíveis à cultura, além da eliminação do alumínio tóxico e do ajuste do pH para a faixa ideal para a soja. Nas profundidades abaixo de 20 cm, são eliminadas as resistências química e física, permitindo o aprofundamento das raízes. As plantas de cobertura utilizadas disponibilizam palhada na superfície do solo e, com suas raízes profundas, aumentam a qualidade biológica do solo, o que contribui para o aumento da biodiversidade de organismos benéficos. A saúde do solo, que contempla o equilíbrio químico, físico e biológico, reduz a população de patógenos causadores de lesões nas raízes, proporcionando maior absorção de água e nutrientes.
Em altas temperaturas, as plantas absorvem mais água e com a falta desse recurso, elas entram em estresse e fecham os estômatos. Essa situação impõe às plantas um gasto energético extra, representando maior custo metabólico despendido na biossíntese de compostos secundários e no estabelecimento de estratégias de adaptação ao estresse. Esse gasto energético significativo contribui para a redução da produção de biomassa vegetal, o que afeta diretamente o potencial produtivo das plantas.
Para evitar os problemas causados pelos estresses, as pesquisas têm investido no desenvolvimento de cultivares geneticamente adaptadas e em produtos para auxiliar a planta a se recuperar rapidamente dessa situação, o que pode evitar gastos desnecessário de energia pela planta, que terá condições de manter seu potencial produtivo.
O controle biológico disponibiliza microrganismos que podem ser aplicados no solo ou via sementes. Eles contribuem para o controle do complexo de doenças e pragas no solo, como nematoides e outros. Além disso, esses microrganismos benéficos propiciam o aumento do volume de raízes subsuperficiais e em profundidade, resultando em maior absorção de água e nutrientes e consequente redução de estresses e aumento de produtividade.
O uso de sementes de excelente qualidade com alto vigor e germinação, protegidas com tratamento de sementes de qualidade, garante a população ideal de plantas e o rápido estabelecimento da lavoura, fator determinante para altas produtividades. Associado a isso, o plantio deve ser feito com perfeição, com a velocidade correta para obtenção de uma excelente distribuição de sementes, evitando falhas, plantas duplas e desuniformidade na profundidade. Uma vez passada a plantadeira, o potencial produtivo da lavoura está determinado e o que poderemos fazer a partir daí é reduzir as perdas causadas pelos fatores redutores: plantas daninhas, pragas e doenças.
As plantas daninhas são responsáveis por grande parte das perdas de produtividade da lavoura. Um bom manejo é a principal estratégia. Existem várias ervas de difícil controle, mas o capim amargoso e a buva têm sido as mais problemáticas. O controle das plantas invasoras deve ser feito com uso de plantas de cobertura, associado ao manejo químico sequencial, associado a um bom manejo pós-colheita.
Os insetos-pragas causam uma grande destruição de raízes, caules, folhas e vagens, reduzindo a produtividade. Os inseticidas são ferramentas indispensáveis no manejo de pragas. No entanto, devem ser usados com recomendação técnica. A calendarização de aplicações pode ser um problema, principalmente porque o uso indiscriminado de químicos mata os inimigos naturais, causa o desequilíbrio do agroecossistema e a seleção de pragas resistentes. Foi o que ocorreu no caso da Helicoverpa armigera, o que ocasionou sérias consequências.
O uso do controle biológico no manejo integrado de pragas, com aplicações de parasitoides de ovos de lagartas e de percevejos, potencializa o controle da população dessas pragas e reduz muito o impacto ambiental e econômico.
Nos casos da mosca branca e da cigarrinha, que transmite enfezamentos para o milho, deve-se evitar a explosão populacional da praga. Para isso, já estão disponíveis fungos que auxiliam na redução inicial da população dessas pragas, reduzindo também os prejuízos.
As doenças destroem as folhas, onde são armazenados os fotoassimilados que serão transcolados para as vagens, garantindo o enchimento e o peso final dos grãos. O complexo de manchas foliares é responsável pela destruição das folhas de soja. O manejo dessas doenças deve ser feito com a primeira aplicação imediatamente antes do fechamento do baixeiro, ainda no período vegetativo, ou no início do florescimento, seguindo das outras aplicações com o manejo da ferrugem asiática da soja. Os produtores também não podem descuidar da ferrugem asiática. Ela deve ser manejada de forma preventiva, protegendo os ativos com fungicidas multissítios, para evitar a perda das moléculas e garantir a proteção da lavoura.
No final do ciclo da cultura, o manejo com a dessecação da lavoura para a colheita também merece atenção especial. Essa prática tem como função facilitar a colheita e não melhorar o grão ou a semente. Por outro lado, a antecipação da colheita destrói muitas folhas, reduz o enchimento do grão e causa prejuízos à lavoura.
O aumento da produtividade é um grande desafio para a agricultura, não só pela questão da sustentabilidade econômica do produtor como também para garantir a segurança alimentar do país e colaborar para que ele alcance uma balança comercial positiva, pelo incremento das exportações.
Estudos apontam para um crescimento da população mundial, que poderá atingir 9,8 bilhões de pessoas em 2050, segundo a FAO. O Brasil, que já se consolidou na liderança da produção de grãos, proteína animal, fibras e bioenergia, precisará concentrar esforços para aumentar ainda mais a produtividade de seus campos, com sustentabilidade, e agregar valor à sua produção. Para isso, é necessário um novo olhar sobre o sistema de produção, observando as plantas e o ambiente onde elas se encontram, e a partir daí, fazer o manejo eficiente para melhorar sua resposta com altas produtividades.