Categoria: Notícias
Data de publicação: abril 05, 2023

Entrevista Regiane de Oliveira

Regiane Cristina de Oliveira tem graduação em engenharia agronômica pela Universidade Federal do Espírito Santo, mestrado em entomologia agrícola pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), doutorado em entomologia pela Universidade de São Paulo (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, ESALQ/USP) e pós-doutorado pela Mississippi State University. Atualmente é Professora Associada da Unesp Botucatu e Professora Adjunta da Oklahoma State University. Atua como vice-presidente da International Organization for Biological Control (IOBC) e como membro do Comitê de Assessoramento de Agronomia do CNPQ.

BioJournal - Como surgiu o interesse pela entomologia e pelo controle biológico?

Sou natural de São José dos Campos (SP) e cresci na cidade da Jacareí (SP), sou filha de produtores rurais, ou seja, a afinidade com o campo veio antes de conhecer efetivamente o curso de engenharia agronômica. Quando manifestei a intenção de aplicar para vestibulares nessa área, enfrentei resistência dos meus familiares, por acharem que não era um curso para mulheres. Mas, ainda assim segui com o propósito e ingressei na Universidade Federal do Espírito Santo, onde tive a oportunidade de participar do NUDEMAFI (Núcleo de Núcleo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Manejo Fitossanitário de Pragas e Doenças) sob a coordenação do Prof. Dr. Dirceu Pratissoli. Foi ele quem direcionou os meus primeiros passos na entomologia e controle biológico. Logo no primeiro ano da faculdade fui contemplada com a bolsa de iniciação científica do CNPQ e desde então sigo trabalhando com pesquisa nessa área. Passei por diversas instituições renomadas ao longo da minha formação, inclusive também fui orientada no doutorado pelo Prof. José Roberto Postali Parra e no pós-doutorado pelo Dr. Frank Davis e hoje sigo com entusiasmo no caminho do ensino, pesquisa e extensão na Unesp, trilhando os passos dos meus maravilhosos exemplos.

BioJournal - Como você vê a evolução do controle biológico de pragas e doenças agrícolas nos últimos anos?

Quando eu comecei meus estudos e pesquisas com controle biológico, o assunto era tratado como “abstrato ou pesquisas utópicas e sem muito futuro”. Mas tive a oportunidade de vivenciar produtores rurais que acreditaram e começaram a utilizar ferramentas biológicas, que ao verem os resultados, disseminavam o uso. Dessa forma, além de poder me abastecer da motivação dos produtores, segui acreditando e ainda sigo firme pesquisando os aprimoramentos na descoberta dos agentes de controle biológico, bem como nos processos para melhoramento na produção e controle de qualidade. Hoje, vivemos uma fase em que o controle biológico é uma realidade global. Temos diversos produtos à disposição dos produtores rurais, os quais têm alta eficácia no manejo dos insetos-praga, o que proporciona redução nos prejuízos na produção e consequente retorno financeiro. Adicionalmente, o controle biológico tem proporcionado uma revolução nos campos de produção agrícola, porque além de serem produtos “técnicos”, ou seja, demandam acurácia dos profissionais da área de manejo de pragas, também impulsionam as boas práticas agrícolas, levando sustentabilidade ao campo, por meio do uso dos produtos fitossanitários no momento correto, reduzindo o impacto ao ambiente, às pessoas envolvidas e auxiliando no manejo das pragas com eficácia.

BioJournal - O que tem de novidade em termos de pesquisas? Quais são mais promissoras?

Inovação e pesquisa são praticamente sinônimas. Temos inúmeras pesquisas sendo realizadas que certamente serão transformadas em novos ecossistemas de inovação no mundo do agro, envolvendo controle biológico. A biodiversidade de fauna e flora em biomas brasileiros ainda está sendo estudada (dentro das regras previstas por lei) e com certeza desses estudos surgirão inúmeros outros agentes de controle biológico, que serão utilizados no manejo de pragas agrícolas, e em outras áreas também. Ou seja, estamos somente iniciando o descobrimento do uso do controle biológico. O processo de prospecção, desenvolvimento e avanço do controle biológico segue rápido e para todos os tipos de culturas do nosso país.

BioJournal - Os alunos de agronomia já se interessam por MIP (manejo integrado de pragas) e controle biológico? Isso vem mudando?

Os alunos dos cursos ligados à agricultura estão cada vez mais interessados em se envolverem com MIP e o controle biológico. Aqueles mais acostumados com o campo têm noção que existem demandas pelas empresas, produtores etc., onde terão ofertas de oportunidades de trabalho no futuro. Aqueles que já estão conectados com o ambiente de inovação, desde a graduação, buscam se especializar nesses assuntos, para conseguir alcançar as posições de trabalho que almejam. Além disso, os alunos têm o real entendimento, que o mundo agro é dinâmico e estar atualizado significa ter sucesso na carreira. Assim, vários alunos estão atentos aos assuntos aplicados ao campo e se possível se envolvem no desenvolvimento de novas tecnologias, pois sabem que disso depende o destaque no mercado de trabalho.

BioJournal - E os produtores rurais? Como veem este tipo de manejo de pragas e doenças agrícolas?

Esta pergunta é curiosa, pois como expliquei, sou filha de produtores rurais e sei bem que, em geral, precisamos de evidências contundentes para que as novas tecnologias sejam utilizadas por elas. Afinal, ser produtor rural é um grande desafio. Mas, observamos que para o controle biológico essa barreira está decrescendo rapidamente. A aderência dos produtores às ferramentas do controle biológico é alta. Por isso, é extremamente necessário trabalharmos com a qualidade da produção e também realizar a transferência da tecnologia, para que o uso seja correto, uma vez que o uso das ferramentas biológicas requer conhecimento sobre como, quando e onde utilizar. Muitas vezes percebemos que há tendência de extrapolar as técnicas do uso dos inseticidas sintéticos, para os biológicos e sabemos que são produtos distintos e com as suas especificidades. Assim, é necessário cuidar de toda a cadeia, para que o uso do controle biológico seja sustentável e que realmente agregue na produção agrícola.

BioJournal - Quais as expectativas para o crescimento do controle biológico na agricultura tropical e no Brasil?

Todos os indicativos econômicos e de pesquisas mostram que já estamos vivendo uma nova geração do controle biológico, o controle biológico 2.0, com novos agentes de controle, novos isolados, novas linhagens e formulações. A previsão de crescimento no descobrimento de novas ferramentas biológicas, bem como o aumento na adoção, é alta. No entanto, precisamos nos preparar para isso. Precisamos de mais pessoas trabalhando nessa direção, pois o desafio de manejar os problemas fitossanitários é grande, e ao trabalhar com soluções biológicas inovadoras, reduzimos as perdas causadas por pragas e assim manteremos a produção no nível de vanguarda que buscamos por muitos anos e que agora precisamos manter para crescer ainda mais.

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