Entrevista com Luís Henrique Vígolo, coordenador de produção do Grupo Bom Jesus
Reconhecido pelo uso de manejo sustentável na produção de sementes de alta qualidade, o Grupo Bom Jesus adota desde 2014, em parceria com a Koppert do Brasil, o Controle Biológico como uma de suas ferramentas no combate às pragas agrícolas, visando reduzir o uso de defensivos químicos sem que isto gere impacto negativo nos custos e na produção.
Hoje, o foco principal do Grupo Bom Jesus em produtos biológicos é ainda no controle de mosca-branca e doenças de solo, mas já está desenvolvendo trabalhos para controle de lepidópteros, seja em ovos com macrobiológicos (parasitoides), seja em fase larval com vírus. Para a safra 2018/2019 há um grande projeto visando o controle de percevejos com macrobiológicos.
Todo este trabalho exigiu da equipe de campo muito aprendizado, treinamento e dedicação, pois houve uma mudança completando direcionamento do monitoramento, visando o manejo do agroecossistema. Com isso, o Grupo Bom Jesus conseguiu obter custos até 30% mais baixos e ganhos em produtividade, aliando o controle biológico ao Manejo Integrado de Pragas (MIP).
O engenheiro agrônomo Luís Henrique Vígolo, coordenador de produção do Bom Jesus, foi o responsável pela adoção e implementação do Controle Biológico nas lavouras do Grupo, que possui atividades agrícolas em 19 municípios no Mato Grosso, Bahia e Piauí. Vígolo foi agraciado em junho deste ano com o Prêmio Parceiros da Natureza 2018, conferido pela Koppert por seu trabalho como entusiasta do Controle Biológico.
Biojournal – Como você recebeu a notícia da premiação? Como vocês chegaram até a empresa?
Vígolo - Fiquei lisonjeado com o prêmio. Eu não esperava. Já me considero um parceiro da Koppert há um tempo, porque sempre falo para todo mundo que não foram eles que nos acharam; nós é que os achamos. Tínhamos uma demanda de produtos e eles tinham os que atendiam a nossa necessidade. Fomos atrás e eles nos atenderam prontamente. Firmamos uma parceria. Em todo lugar aonde vamos sempre demonstramos essa relação. Fiquei muito feliz em receber o prêmio. Tanto eu como toda minha equipe nos esforçamos muito para chegar aonde chegamos, no nível de avanço que temos hoje dentro do uso de Controle Biológico e Manejo Integrado de Pragas.
Encaramos isso de uma forma muito positiva. Para o Grupo Bom Jesus é um diferencial.
Biojournal – Como você se tornou um entusiasta do Controle Biológico?
Vígolo - Controle Biológico é uma ferramenta muito antiga já. A tecnologia hoje veio para nos auxiliar a desenvolvermos produtos cada vez melhores, que caibam dentro da realidade do produtor. Não é uma ‘invenção da roda’ a agricultura poder usar Controle Biológico. É apenas pegarmos conhecimento e aplicar no campo. A agricultura é uma ciência multidisciplinar e a Ecologia aplicada à agricultura está dentro disso. Quando se estudam esses conceitos e se sabe aplicá-los, usar Controle Biológico se torna fácil, pois o mesmo sempre ocorre na natureza. Mas existem muitas barreiras ideológicas. Por exemplo, o Brasil é um país tropical, de agricultura tropical, tem a ponte verde, são muitas pragas e elas são polífagas. Isso é uma realidade e serve de desculpa para dificultar a adoção do MIP e do Controle Biológico, mas em contrapartida, o que a maioria não entende, ou não vê, é que também temos grande diversidade de insetos benéficos e microorganismos ocorrendo no agroecossistema, que predam aquelas pragas. O primeiro passo para construir um MIP bacana é saber entender a Ecologia aplicada à agricultura e deixar de utilizar produtos que tenham modo de ação de amplo espectro, de choque. Quando temos produtos que atuam direto no sistema nervoso dos insetos e eles não são seletivos, quando ocorre a aplicaçãose está matando tudo, tanto o que é bom quanto o que é ruim. Quando se passa a trabalhar com produtos que só agem por ingestão, produtos seletivos, os químicos eu estou dizendo, aí você passa a só eliminar a praga. Esses produtos têm, geralmente, um efeito de controle de no máximo 80 a 90%. O que sobra dessa aplicação, aqueles insetos benéficos que estão no ambiente e não morreram, fazem o resto do serviço. Foi assim que teve início o trabalho e depois começamos a inserir o Controle Biológico. Isso cria uma escadinha ao longo do tempo, colonizando a área com insetos benéficos, criando um ecossistema. Se todo mundo partir deste tipo de princípio a agricultura brasileira dará um salto de qualidade porque isso é muito possível de acontecer. Da mesma maneira que a gente tem uma grande diversidade de plantas, de espécies de insetos que são pragas na natureza, e que atacam as lavouras, a gente também tem uma infinidade muito maior de insetos que são benéficos, que são parasitas, parasitoides que são predadores e basta você dar o espaço.
Biojournal – Vocês conseguem atingir que patamar de eficiência com os produtos biológicos?
Vígolo - Hoje nenhum produto pode ser registrado com menos de 80 a 85% de controle, tanto biológico quanto químico, e isso vemos no campo. Muitas vezes até mais. Para efeito de bula esse é o número que é apresentado, mas é claro que a gente vê eficiência de 90% na maioria das ve